Admirável
João Gaspar,
Eu tinha escrito, antes de
admirável João Gaspar,
querido João Gaspar, porque gosto realmente muito do teu pensar e do teu prosar, mas depois decidi não o escrever porque não me sentia no direito de tratar tão coloquialmente alguém com quem nunca tive a oportunidade de falar. De qualquer modo, tens razão, a culpa da tua interpretação da minha expressão como ironia é toda minha. Mas não era minha intenção, a sério.
Quanto ao que interessa, mete-me nojo a nossa sociedade de doutores. Incomoda-me pensar que a cordialidade só existe com essas duas ou três letras como prefixo. Aliás,incomoda-me que a cordialidade sirva de argumento para essas três letras. Daí, também, o facto de eu gostar de tratar as pessoas por "admirável isto", "querido aquilo", "mui adorado aqueloutro" - por falar nisto, ando a ler um livro em que o neto trata o avô por "venerável avô". Delicioso.
A entrevista de esclarecimento tem tido muito de não-esclarecimento. Não me convencem as equivalências (até porque eu, como estudante, teria direito a algumas que a universidade não me quer dar) nem, de modo geral, as universidades privadas.
No entanto, não me deixa indiferente a imagem que, decerto, Sócrates conseguirá manter: a de um líder carismático que sai apenas meio a cambalear de todas as ofensivas. Basta, para isto, ter uma capacidade retórica suficientemente singela, como poucos primeiros ministros portugueses tiveram e, mais do que isso, uma boa relação com os bandidos dos jornalistas. E também concordo contigo quando dizes que os jornalistas estavam melhor calados. É ouvindo que melhor se aprende; o grande problema é que, no meio disto tudo, há sempre alguém que tem de falar. Deixemos, pois, falar quem já ouviu demasiado.