É a isto que chama um trabalho académico?
«A força da Bossa Nova está no facto de ela ser, ao mesmo tempo, mais popular e mais erudita do que se pensa. Popular uma vez que preenche a condição necessária para esse efeito: a da vontade de ser. Erudita porque assume um carácter ostensivo: o da não ostentação. Um intérprete como João Gilberto não tem o mesmo poder que uma intérprete como Astrud Gilberto, e isto não acontece necessariamente porque ele seja homem e ela seja mulher, ou porque ela o tenha deixado, quando ainda era seu marido, para viver um romance com Stan Getz. Isto acontece porque João Gilberto tinha voz e decidiu não ostentá-la, foi Autor no sentido foucaultiano, criou um estilo próprio que traduziu em forma de manifesto: o manifesto de uma nova corrente musical, uma nova maneira de fazer e de sentir a música popular. Astrud, como tantos outros intérpretes, fez apenas o que, de certa forma, grande parte das pessoas se limita a fazer durante toda a sua vida: imitar, reproduzir o que já foi feito, tentar a originalidade. Mas por que havemos de valorizar a originalidade se ela é, para nós, um acidente? Porque ela é, provavelmente, o acidente que mais motiva as mudanças sociais, culturais e ideológicas no mundo. Da experiência estética da contemplação da suposta originalidade dos nossos semelhantes nasce a vontade. Da vontade nasce um grande acidente em cadeia, um mundo humanizado do qual uns gostam mais e outros gostam menos.», alguém pouco importante, numa "obrazinha" ainda menos importante, o tempo, esse sacana, importa ainda menos.
4 Comments:
De facto, estás especializada no assunto.:)
que é isto, filigraana?
tendemos a esquecer que a bossa nova é coisa tão recente; e de facto parece que existiu sempre. já ouviste o "estudando o samba" do tom zé? grande álbum... de bossa nova.
é um excerto do meu trabalho sobre Bossa Nova, A. Pode ser recente, mas para mim a Bossa já é velha, até porque a Bossa é samba. Vou ouvir o álbum, obrigada:)
gostava de ler esse trabalho, F.
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