quinta-feira, dezembro 21, 2006

O Herói Amoral

Robert Ervin Howard viveu trinta anos após o seu nascimento em 1906. Contudo, a sua importância é central para aquilo que pode designar-se como literatura popular ou de massas (não confundir com literatura tradicional). Criou uma personagem cujas características vieram pôr em causa todo o paradigma do herói de acção na literatura (e não só).

Conan, o bárbaro, guerreiro cimério de uma época antiga perdida na poeira dos tempos. Conan que quebra todos os estereótipos do herói. Até ao seu surgimento, os heróis eram-no por motivos nobres ou por objectivos nobres. Havia bons e maus, não havia meios-termos. Mesmo quando, ao jeito clássico, os heróis acabavam por "pecar", faziam-no por motivos justos. Eram joguetes dos deuses.

Conan, o bárbaro, agia por motivos diferentes: os seus sentimentos eram primários, violava ou fazia amor (nas mais das vezes começava com a primeira e acabava fazendo o segundo) quando sentia desejo, matava quando sentia raiva, pilhava quando ambicionava algo, não tinha princípios que não os da sua sobrevivência. Nada havia de nobre em Conan excepto a sua humanidade básica e bárbara. Era naturalmente desconfiado e não mentia, dizia sempre a verdade mesmo quando esta podia metê-lo nas maiores dificuldades. O seu objectivo principal: a tal sobrevivência. Como objectivos secundários tinha satisfazer todos os seus desejos e sentidos. A sorte faz dele rei, imperador, mas no fundo, aquele ser continua o rei dos ladrões, o mercenário sem escrúpulos.

A existência deste herói permite, pela primeira vez, que se considere que o herói pode ter outros objectivos não tão nobres, pode ter falhas, pode agir erradamentre pelos motivos errados. Este herói permite que o detective de Spillane seja um palerma, mal-criado e zangado com a vida, sem respeito pelas mulheres; permite o surgimento de miríades de anti-heróis, de Mr. Ripleys, de todo um lado humanamente negro nos mais imaculados heróis. A banda desenhada americana foi beber dessa fonte nos seus mais notáveis exemplos. O imaginário da acção e da aventura nunca mais foi o mesmo depois de Conan, o selvagem.

Não queria deixar de celebrar o centenário do nascimento de Howard, pela sua importância, pela sua essência, pela sua brevidade e pela sua continuidade e influência.

2 Comments:

Blogger lampâda mervelha said...

Eu gostei mais da banda sonora!

22 dezembro, 2006 19:50  
Blogger Salvador Daqui said...

és um fã do basil?

26 dezembro, 2006 15:43  

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