domingo, maio 28, 2006

O Sistema

A bem dizer irrita-me esta coisa que grassa no nosso país. Este sistema que dita a sucessão partidária à vez e que determina a forma como se mina cada vez mais o nosso país. Ninguém tem a possibilidade de fazer um trabalho continuado.

Imaginemos que um indivíduo x chega a uma posição de chefia. Para lá ter chegado teve de, durante alguns anos, ser competente e bom na sua área. Contudo e para conseguir esse cargo, essa pessoa tem de ter amigos, cunhas, e tem de ter um partido (e já de há uns anos para cá que os ditos "independentes" têm cores partidárias mais definidas do que muitos membros de partidos).

Continuemos, portanto, a imaginar que essa pessoa divisou um sistema perfeito de combate a incêndios, ou resolução do problema dos sem-abrigo ou ainda de desbloqueamento da situação das longas filas de espera para operações nos hospitais públicos portugueses. Digamos que começa a pôr esse sistema em prática, que tem, primeiro que tudo, de combater todos os opositores ao seu sistema. Sabemos, é claro, que muitos desses opositores lhe fazem frente, uma vez que têm medo do seu sucesso enquanto impossibilitador da possibilidade de serem eles a atingir a chefia.

Tem, portanto, de os afastar ou ganhar para o "seu lado" se quer conseguir fazer algo. E tem de ter cuidado para não o fazer demasiado abertamente e, assim, suscitar a possibilidade de ser atacado por essa oposição e acusado de partidarismo.

Depois tem que se precaver contra os membros do seu próprio partido porque, em Portugal, todo o sucesso é digno de inveja. Para agora levar o seu sistema por diante tem de mudar regras, alterar instituições, ir contra os interesses de muitas camadas de sujidade instalada.

Digamos que até agora teve sucesso. Pois, mas isto demora alguns anitos. Digamos que o nosso indivíduo x tem o seu sistema prestes a ser implantado. Passou o tempo do seu partido que nada conseguiu na área onde o nosso indivíduo labora. Nada de visível. Nada de resultados.

Digamos que o partido do indivíduo x ganha de novo as eleições. O indivíduo x terá de ser responsável pelo insucesso "visível" da sua área. E devido às pressões da oposição e opinião pública, alguém terá de ser responsabilizado. O nosso indivíduo x vai provavelmente ser o bode expiatório. Com muita sorte pode ser recolocado em qualquer área onde possa ser inócuo e não causar muitas ondas.

Mas caso ganhe o partido da oposição, temos duas hipóteses: a primeira que o sistema do indivíduo x esteja em funcionamento e a resultar. Nesse caso o indivíduo x é imediatamente afastado e o crédito de toda a operação passa para o indivíduo y que vai passar os próximos anos a introduzir no sistema os membros do partido que haviam sido afastados. Isto vai resultar que nessa área não haja quaisquer resultados visíveis no final do mandato desse partido.

Na segunda hipótese o sistema do indivíduo x não está ainda em funcionamento. Rapidamente susbstituído pelo indivíduo y, o nosso amigo x vê o partido contrário introduzir um sistema diametralmente oposto, não tanto porque o seu seja incorrecto mas porque o partido do indivíduo y tem de mostrar que está a fazer algo completamente diferente do que o partido do indivíduo x tinha feito, e que nunca tinha resultado visivelmente. O indivíduo y tem, portanto, pela sua frente, a enorme tarefa de construir um sistema que funcione e seja totalmente oposto ao previamente previsto. Tem de, primeiro que tudo, combater todos os opositores ao seu sistema. Sabemos, é claro, que muitos desses opositores lhe fazem frente, uma vez que têm medo do seu sucesso enquanto impossibilitador da possibilidade de serem eles a atingir a chefia.

Tem então de os afastar ou ganhar para o "seu lado", se quer conseguir fazer algo. E tem de ter cuidado para não o fazer demasiado abertamente e, assim, suscitar a possibilidade de ser atacado por essa oposição e acusado de partidarismo.

Depois tem que se precaver contra os membros do seu próprio partido porque, em Portugal, todo o sucesso é digno de inveja. Para agora levar o seu sistema por diante tem de mudar regras, alterar instituições, ir contra os interesses de muitas camadas de sujidade instalada.

Digamos que até agora teve sucesso. Pois mas isto demora alguns anitos. Digamos que o nosso indivíduo y tem o seu sistema prestes a ser implantado. Passou o tempo do seu partido que nada conseguiu na área onde o nosso indivíduo labora. Nada de visível. Nada de resultados.

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