E a Propósito de Brasil...
escova.
eu tinha vontade de fazer como os dois homens que vi sentados na terra escovando osso. no começo achei que aqueles homens não batiam bem. porque ficavam sentados na terra o dia inteiro escovando osso.depois aprendi que aqueles homens eram arqueólogos. e que eles faziam o serviço de escovar osso por amor. e que eles queriam encontrar nos ossos vestígios de antigas civilizações que estariam enterrados por séculos naquele chão. logo pensei de escovar palavras. porque eu havia lido em algum lugar que as palavras eram conchas de clamores antigos. eu queria ir atrás dos clamores antigos que estariam guardados dentro das palavras. eu já sabia também que as palavras possuem no corpo muitas oralidades remontadas e muitas significâncias remontadas. eu queria então escovar as palavras para escutar o primeiro esgar de cada uma. para escutar os primeiros sons, mesmo que ainda bígrafos. começei a fazer isso sentado em minha escrivaninha. passava horas inteiras, dias inteiros fechado no quarto, trancado a escovar palavras. logo a turma perguntou: o que eu fazia o dia inteiro trancado naquele quarto? eu respondi a eles, meio entresonhado, que eu estava escovando palavras. eles acharam que eu não batia bem. então eu joguei a escova fora.
manoel de barros em seu último livro, "memórias inventadas".
Informações sobre a musa
Musa pegou no meu braço. Apertou.
Fiquei excitadinho pra mulher.
Levei ela pra um lugar ermo (que eu tinha que fazer uma lírica):
- Musa, sopre de leve em meus ouvidos a doce poesia, a de perdão para os homens, porém... quero seleção... ouviu?
- Pois sim, gafanhoto, mas arreda a mão daí que a hora é imprópria, sá?
Minha musa sabe asneirinhas
Que não deviam de andar
Nem na boca de um cachorro!
Um dia briguei com Ela
Fui pra debaixo da Lua
E pedi uma inspiração:
- Essa Lua que nas poesias de antes fazia papel principal, não quero nem pra meu cavalo; e até logo, vou gozar da vida; vocês poetas são intersexuais...
E por de jaba ajuntou:
- Tenho uma coleguinha que lida com sonetos de dor de corno; porque não vai nela?
Manoel de barros em seu primeiro livro POEMAS CONCEBIDOS SEM PECADO
(já tinha postado isto noutro blogue mas o Manoel de Barros vale sempre a pena)
eu tinha vontade de fazer como os dois homens que vi sentados na terra escovando osso. no começo achei que aqueles homens não batiam bem. porque ficavam sentados na terra o dia inteiro escovando osso.depois aprendi que aqueles homens eram arqueólogos. e que eles faziam o serviço de escovar osso por amor. e que eles queriam encontrar nos ossos vestígios de antigas civilizações que estariam enterrados por séculos naquele chão. logo pensei de escovar palavras. porque eu havia lido em algum lugar que as palavras eram conchas de clamores antigos. eu queria ir atrás dos clamores antigos que estariam guardados dentro das palavras. eu já sabia também que as palavras possuem no corpo muitas oralidades remontadas e muitas significâncias remontadas. eu queria então escovar as palavras para escutar o primeiro esgar de cada uma. para escutar os primeiros sons, mesmo que ainda bígrafos. começei a fazer isso sentado em minha escrivaninha. passava horas inteiras, dias inteiros fechado no quarto, trancado a escovar palavras. logo a turma perguntou: o que eu fazia o dia inteiro trancado naquele quarto? eu respondi a eles, meio entresonhado, que eu estava escovando palavras. eles acharam que eu não batia bem. então eu joguei a escova fora.
manoel de barros em seu último livro, "memórias inventadas".
Informações sobre a musa
Musa pegou no meu braço. Apertou.
Fiquei excitadinho pra mulher.
Levei ela pra um lugar ermo (que eu tinha que fazer uma lírica):
- Musa, sopre de leve em meus ouvidos a doce poesia, a de perdão para os homens, porém... quero seleção... ouviu?
- Pois sim, gafanhoto, mas arreda a mão daí que a hora é imprópria, sá?
Minha musa sabe asneirinhas
Que não deviam de andar
Nem na boca de um cachorro!
Um dia briguei com Ela
Fui pra debaixo da Lua
E pedi uma inspiração:
- Essa Lua que nas poesias de antes fazia papel principal, não quero nem pra meu cavalo; e até logo, vou gozar da vida; vocês poetas são intersexuais...
E por de jaba ajuntou:
- Tenho uma coleguinha que lida com sonetos de dor de corno; porque não vai nela?
Manoel de barros em seu primeiro livro POEMAS CONCEBIDOS SEM PECADO
(já tinha postado isto noutro blogue mas o Manoel de Barros vale sempre a pena)
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