sexta-feira, maio 19, 2006

Código Decifrado

A propósito do último post do blogue coisas (e ainda de Dan Brown), devo dizer que não acho nada uma tristeza discutir Kundera com o padeiro. Tornei-me fã do acesso de genialidade que Boaventura de Sousa Santos teve quando defendeu que «todo o conhecimento científico visa constituir-se senso comum». Pois não era genial que todo e qualquer padeiro tivesse o seu quinhão de conhecimentos sobre química fisiológica ou mecânica quântica? Que toda a empregada doméstica pudesse, em part-time, dar explicações de fenomenologia hegeliana? Que qualquer taxista fosse capaz de discutir, com propriedade, Proust ou Henri Bergson?

Se Dan Brown é mau, e eu não sei porque ainda não li, o problema de tudo isto não é haver gente que leia Dan Brown. É haver gente que não respeita o gosto ou a indisponibilidade de quem não leu Dan Brown. É haver quem leia Dan Brown porque outros leram. No fundo, o problema do Código Da Vinci não é um problema de literatura. É um problema de identidade.

Mas não se preocupem: a cultura de massas, da imitação e da produção industrial em série (também de pessoas), veio para ficar.

1 Comments:

Blogger Salvador Daqui said...

Por vezes tenho medo de ti.

20 maio, 2006 12:51  

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