domingo, julho 02, 2006

«[o meu pai] parece um burrito»


Confirma-se. Tideland não é um mau filme. É até um bom filme. Não concordo com quase nenhuma das críticas ao filme. Por exemplo, a de Jorge Mourinha (aqui) diz que « Tal como no igualmente falhado "O Rei Pescador" o barroquismo de Gilliam se dava mal com o realismo melodramático da história, aqui é o realismo que se pretende maravilhoso da encenação que fica aquém do tom fantástico da história: apesar da tentativa, Gilliam não consegue nunca levar-nos a ver este mundo pelos olhos de Jeliza-Rose, o que é não apenas inesperado num realizador conhecido pelas suas capacidades imaginativas como reduz "O Mundo ao Contrário" a um exercício falhado que tomba não poucas vezes no grotesco.»

Não concordo porque: (1) o Rei Pescador não é um filme falhado. (2) Gilliam não parece querer levar-nos a ver o mundo pelos olhos de Jeliza-Rose. Gilliam sabe que há uma presunção barroca em tentar ver o mundo pelos olhos de uma criança. Mesmo as pessoas infantis não experimentam nunca algo parecido com ser criança. É esse o valor do filme. Mesmo perguntando, não há maneira de saber o que pensa uma menina que prepara as seringas para os pais se drogarem. O realizador fez o que pôde: mostrou-nos a euforia injustificada de uma menina sozinha com a morte e com as suas bonecas. A leveza de quem ainda não sabe que existe.