quarta-feira, junho 21, 2006

Pragmatismo

O Discovery Channel está a transmitir um programa sobre inventos na área da engenharia para proteger os edifícios contra explosões provocadas por ataques terroristas. Nos Estados Unidos, há mesmo empresas que se dedicam exclusivamente ao fabrico e criação destes tipos de materiais que, por exemplo, revestem betão para impedir que se fragmente numa explosão ou impedem os vidros de se estilhaçar quando atingidos.

Gosto da ideia de o terrorismo deixar de ser um problema ideológico para passar a ser uma questão de engenharia civil.

22 Comments:

Blogger vxcvxvc said...

posso corrigi-la? quer-me parecer que o terrorismo nunca foi um problema ideológico. não existe ideologia na barbarie, menina.

22 junho, 2006 01:18  
Blogger T said...

Saiba o menino que existe ideologia nas piores coisas que possa imaginar. Aliás, a própria ideologia é a barbárie. Arre diabo.

22 junho, 2006 01:51  
Blogger vxcvxvc said...

tem razão, não fui claro. houve barbárie tendo como suporte uma ideologia. mas esta, em particular, o terrorismo, não tem ideologia nenhuma por trás. é terror, e mais nada. já algum terrorista explicou o que queria? não. e não: invocar o alcorão não conta como "base ideológica".

22 junho, 2006 20:29  
Blogger Salvador Daqui said...

Sinceramente essa resposta é ignara. Se há coisa que os terroristas estão sempre a fazer é explicar-se. (Aproveito que o termo "terrorista" foi cunhado pela revolução francesa com o seu peíodo de Terror.) As razões podem não te parecer correctas ou sequer justificativas mas que estão lá estão: a independência da irlanda, do país basco, as lutas étnicas, as guerras religiosas - o Bush é que ainda não conseguiu explicar o que por lá anda a fazer, a propósito. As explicações abundam.
Normalmente são os criminosos que não se explicam (como o Bush?).

22 junho, 2006 21:03  
Blogger Salvador Daqui said...

Faltou lá em cima um "Aproveito para lembrar que..."

22 junho, 2006 21:09  
Blogger Salvador Daqui said...

e como a mula insistia em aparecer periodo está sem r e há mais uns erritos :(

22 junho, 2006 21:10  
Blogger vxcvxvc said...

Claro, agora o Bush - presidente de um país democrático - é um criminoso. E os terroristas - oriundos e defensores de totalitarismos - são uns pobrezinhos. as razões apresentadas não são razões. e não, os terroristas não se explicam. pelo contrário, o Bush já explicou. estava errado. explicou de novo. a guerra do Iraque é um erro. mas não é por isso que se desculpabiliza a atitude bárbara do médio oriente.

22 junho, 2006 21:11  
Blogger Salvador Daqui said...

Bolas. Mas qual atitude bárbara e porque diabo a circunscreves tu ao médio oriente, que eu saiba, da Córsega aos balcãs, da tchétchênia à indonéisa, do sri-lanka aos países sul-americanos até nos estados unidos há terroristas. E já agora seria interessante meditar (até na sequência de coisas que tu escreveste no teu blog) porque será que o espírito desses povos do médio oriente reage dessa maneira ao ocidente. Será porque durante séculos andamos armados em terroristas e a impingir as nossas ideias e a nossa religião?
Atenção que eu não defendo terroristas só que, mais uma vez, tenho que BERRAR que só a história vai decidir quem foram os terroristas. Porque olhar para trás na história e ver terroristas que ficaram na história como libertadores e heróis são às mãcheias. Veja-se o zapata, os irlandeses como Wolf Tone, Viriato, Washington, Bolívar, Khadji-Murat, Boadiceia, Ulisses... e tantos milhares de outros. E foram todos chamados terroristas, sublevadores, monstros, todos mataram inocentes, só não tinham aviões. O que o William Wallace não faria com um boeing... adeus palácio de Windsor.
E para concluir, desculpa-me lá mas a guerra do Iraque NUNCA foi um erro. Há lá petróleo. Se bem te lembras o Bush agiu por cima das determinações das Nações Unidas, e continua a fazê-lo. Isso é terrorismo. Não defendo nem o Bin Laden nem o Bush mas gostava de ver se o Bin Laden faria alguma coisa contra o "ocidente" se não andássemos a meter o bedelho nas coisas deles.
Critico todos. Ataco sobretudo as falsidades e creio que tu estás a ser faccioso e a pretender defender posições morais sem ter em conta todos os elementos. A coisa que mais me irrita nas pessoas é quando julgam que há bons e maus e que as coisas são sempre assim a preto e branco. Todos somos culpados e a culpa é histórica. Todos somos extremistas à nossa maneira. Aquilo que é realmente essencial é compreender que há ideologias certas e erradas. O Hitler escreveu um livro com a sua ideologia e todo um povo foi atrás disso...

23 junho, 2006 09:08  
Blogger vxcvxvc said...

primeiro ponto: digo terrorismo do médio oriente porque todo o restante género de terrorismo tem, cá está, fundação ideológica. este, não tem.

segundo ponto: essa conversa é muito batida. a de que a culpa é nossa, porque nós é que os fomos importunar. realmente, coitadinhos, fomos instalar uma democracia mesmo no centro de todos os totalitarismos, para eles poderem fazer comparações, realmente, foi um golpe baixo. e, agora, fora de cinismos: nós impingimos a nossa religião e cultura? meu amigo, lê um livro de história anterior ao século treze. aliás, anterior ao século quinze. até ao século quinze houve muçulmanos na europa. até ao século treze, grande parte da Europa estava colonizada (sim, colonizada, o colonialismo já existia, e antes de nós o praticarmos com os africanos eles praticaram-no connosco), dizia, estava colonizada pelos árabes. por isso o teu argumento é facilmente irrefutável e perde relevância quando confrontado com a história. claro, já vi muita gente de esquerda usar esse argumento. em público, idem, o que é mais grave. por isso, não me surpreende.
quanto à questão do petróleo: todos nós sabemos o que está em jogo. mas foi um erro na mesma. até porque os poços de petróleo sobreviveram e continuam nas mãos de uma minoria apostada em fazer explodir a europa aos poucos.
e não, não considero que assassinos e terroristas sejam herois. e não confundamos Zapata com Washington ou com William Walace. Ainda há (e ainda bem) diferenças entre terroristas e libertários.

23 junho, 2006 10:50  
Blogger T said...

Não se zanguem, meus queridos.

Essa de mandar o Salvador ler qualquer coisa foi engraçada... eheheh [private joke com o bibliófilo]

23 junho, 2006 12:41  
Blogger Salvador Daqui said...

Querias dizer facilmente refutável?

Bem... eu n tou zangado, gosto de uma boa refrega.

Só queria notar que ao que se sabe (depois de umas largas dezenas de anos de leituras de livros alguns deles de histórias anteriores aos séculos que mencionas) os muçulmanos que por cá andavam nunca tentaram impingir os seus modos de vida aos locais. Nem podiam fazê-lo porque eram uma civilização de mercadores.

Ainda outro ponto. Se a inglaterra tivesse ficado como senhora da américa do norte achas que o Washington e seguidores não eram comparáveis ao IRA? Mas para ti esses não são terroristas... Só os do Médio Oriente. Ou seja tu aceitas como ideologias as geopolíticas mas não as religiosas (e depois eu é que sou de esquerda - que por acaso não sou... nem de direita nem de centro).

Continuo a achar que se nós não andássemos a meter o nosso nariz nos assuntos deles provavelmente eles não andariam apostados em explodir a europa (e os states). Mas certamente sou eu que sou burro.

Como já disse antes há centenas de ideologias. A dos islamitas radicais é muito parecida com a dos Testemunhas de Jeová, recomendo-te que fales com alguns.

Depois escreverei mais.

23 junho, 2006 13:08  
Blogger vxcvxvc said...

é verdade, "refutável", errei. isto de escrever de manhã sempre me conseguiu trocar as voltas.

a sugestão de leitura era uma arrogância retórica. não sei o que leste ou o que deixaste de ler. mas acho que entendeste a blague. não foi nenhum tipo de ofensa, espero. não foi, de todo, a intenção.

quanto às ideologias: não considero que uma ideia religiosa possa ser usada como ideologia. e creio, precisamente, ser esse o problema do médio oriente. quando maomé conseguiu a unificação dos estados árabes conseguiu unificar a língua. como a língua é, como sempre foi, o veículo primordial da cultura, e como a cultura, neles, está irreversivelmente ligada à religião, é dificil construir um estado laico que leve à democracia, à liberalização da economia, etc.

mas, reforço mais uma vez: acho que a religião não deve estar, de todo, ligada à política. foi a laicização dos nossos estados que nos levou ao desenvolvimento económico e social.

por último, um conselho que costumo dar a todos os "indecisos": acho salutar escolher um lado. seja ele qual for. mesmo que seja o centro. é preciso clarificar a nossa posição. e não é por uma questão clubística (desprezo os partidos). é mesmo por honestidade intelectual.

23 junho, 2006 13:47  
Blogger T said...

Uma ideia religiosa não pode ser usada como ideologia? Mas a política não é, como tudo, aliás, um acto de fé?

Excelente texto: http://topicospoliticos.blogspot.com/2004/10/ideologia-o-que.html

23 junho, 2006 14:08  
Blogger Salvador Daqui said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

23 junho, 2006 14:52  
Blogger Salvador Daqui said...

Bolas acabei de perder um post de resposta enorme que estava genial.

Vou escrevê-lo de novo mas sei que não vai ficar nem tão bom nem tão eloquente :(

23 junho, 2006 14:52  
Blogger Salvador Daqui said...

Primeiro que tudo não fiquei de forma nenhuma ofendido. Se perguntares à fili ela confirmar-te-à que levo isto eminentemente na desportiva.

Segundo: as religiões são ideologias do mais puro possível, concordo com a fili: a política é mais de fé que a religião.

Hitler tinha uma ideologia como a tinha Mani, Zoroastro ou Cristo ou os gajos do Ku Klux Klan (sim tou a atirar tudo para o mesmo saco).

Desgraçado de mim que nunca consigo passar as mesmas ideias de forma idêntica, agora dou por mim a escrever todo um novo texto.

Um senhor houve, de seu nome Paul de Man, filósofo americano pai do Descontrucionismo que logo após a segunda guerra mundial foi atacado por muitos ao defender que todas as razões (centros, chamava-lhes ele) eram defensáveis e portanto correctos e justos dentro da sua realidade cultural que podia ser muito alargada como a de um profeta religioso ou a filosofia de vida de um louco. Dentro do seu escopo que podia ser maior ou menor quantos mais ou menos indivíduos influenciasse.

Claro que os média americanos lhe cairam em cima perguntando se Hitler tinha razão ao que ele, corajosamente disse que sim.

Esse é o problema que eu considero: quem pode dizer se a realidade de uma mulher que se recusa a retirar a burka porque acredita nisso e porque a sua realidade é essa, é melhor que a de uma mulher que se recusa a usá-la. Quem pode dizer se é melhor a nossa sociedade laica e desenvolvida social e economicamente onde se tem medo da morte e se teme a ausência de Deus, àquela onde os terroristas ou as mulheres emburkadas morrem felizes por irem para o paraíso de Alá.

Ao fim e ao cabo é uma questão de´ óptica: se eu vejo uma pedra daqui e tu olhas a mesma pedra dali, vemos a mesma coisa diferentemente mas, sobretudo, nunca vemos a coisa na sua inteireza. Vamos apenas parte do objecto.

Mais que qualquer outra coisa NÃO ME ARRISCO A EMITIR OPINIÃO SOBRE O QUE SERÁ MELHOR quando só conheço este mundo em que vivo.

Antes de passar ao ponto terceiro queria apenas informar que hoje o Paul de Man é idolatrado nos meios intelectuais e académicos um pouco por todo o mundo.

Ponto terceiro os Árabes foram muito mais avançados que os europeus durante séculos, falo de anos-luz de conhecimento à frente.

Quem não o saiba busque, por exemplo informações sobre o mapa de Piri Reis, que descreve os contornos perfeitos do continente americano séculos antes de nós lá termos posto os pés.

O renascimento Árabe que aconteceu muitos séculos antes do nosso deixava claro levou a que muitos sábios Árabes fossem contratados pelos Senhores do Ocidente. Mais que isso a civilização Árabe é anterior ao Maomé e vem dos Persas que já andavam às turras com os gregos ainda a civilização ocidental andava de toga e não tinha sido descoberta a homossexualidade.

O que Maomé fez foi uma unificação religiosa. Nada teve que ver com a língua. O nosso amigo Maomé que defendia mesmo no começo que os crentes deviam rezar virados para (sabias?) Roma!

É uma curiosidade algo assuatadora sabendo que a história humana se repete em ciclos, que esses povos dispersos em fé, cultura e língua depois de "globalizados" tenham vindo a descambarno extremismo religioso. Pois não andamos nós, que estivemos sempre atrás deles em termos de evolução, a caminho do mesmo com a nossa redescoberta das espiritualidades depois de um período de dispersão marcado pela morte de Deus?

Quarto: A minha posição política não é de esquerda, centro ou direita. Há muito tempo que aprendi que o sistema já operou uma normalização e qualquer que seja o partido ou clube vencedor os resultados práticos das ideologias são identicos. Eu voto nas pessoas assim como defendo o clube de cuja cor mais gosto.
Em suma: uma questão de fé. E uma ideologia minha.

Ponto Quinto: se A inglaterra ativesse mantido a soberania sobre a América do Norte não seriam os Washingtons de então e os seus seguidores considerados ao lado dos membros do IRA com o terroristas?

Ponto sexto: voltando à questão do ponto de vista e da impossibilidade física e mental de duas pessoas conseguirem ver e entender a mesma questão da mesma forma. Para mim não há dúvidas que as religiões são ideologias tão válidas como as políticas. As religiões são mesmo mais racionais que muitas políticas - veja-se o nosso país...

Com isto quero dizer que mais uma vez creio que não vou conseguir explicar-te melhor do que isto aquilo que penso.

A grande dificuldade do ser humano é crescer o suficiente para perceber que é uma migalha e Sócrates berrava pela pena de Platão que só sabia que nada sabia. Essa é a minha posição embora admire aqueles que escolhem um lado, sejam eles bloguistas ou extremistas religiosos.

23 junho, 2006 15:32  
Blogger Salvador Daqui said...

meu deus qq dia escrevo um livro!

23 junho, 2006 15:46  
Blogger Salvador Daqui said...

Ops agora que releio observo que a minha conclusão pode ser lida como uma ofensa. Não pretendeu sê-lo. A verdade é que por vezes gostava de ter mais fé do que tenho e admiro quem tem. Infelizmente creio que a fé é resultado de inexperiência.

23 junho, 2006 17:01  
Blogger vxcvxvc said...

Sinceramente, quando as conversas derivam em verborreia teórica, perco o interesse. o Wittgenstein tinha razão quase totalmente: os problemas filosóficos são apenas encruzilhadas linguísticas. e acho que chegámos a uma. mas, em ideias lineares, sem as explicar por demais, porque já o fiz anteriormente, vou explanar as minhas posições em relação aos temas abordados:

primeiro: não considero que o terrorismo islâmico tenha uma ideologia por trás.

segundo: porque não considero a religião uma ideologia. porque não é. a religião baseia-se numa quantidade de dogmas e pressupostos morais, fora da razão, ou de outras falácias do género. porque os pressupostos morais não podem ser refutados, já que não podem também ser provados como certos (ou por isso mesmo sejam certos: paul de man, ou como é o nome do homem, bem vindo ao meu mundo).

uma ideologia, pelo contrário, deve ter pressupostos concretos, refutáveis e racionais (proponho a leitura do Rationalism on politics, de Michael Oakeshott, para uma clarificação desta ideia - mas não só).

e não, a política não é, nem pode ser, uma questão de fé. quando é, dá mau resultado. o nosso povo funciona assim, é por isso que não vai a lado algum (uma vez salazarista, sempre salazarista - desde Dom Afonso Henriques).

quanto às questões históricas: não sabia desse facto das orações viradas para roma, mas sei que, de facto, Maomé unificou os países árabes e unificou a língua (que derivou nestes problemas). e, hoje em dia, nós somos mais desenvolvidos que eles, como eles foram, em tempos, mais do que nós. round and round it goes, where it stops, nobody knows.

i think we're done. da minha parte, pelo menos. não me ofendeste em nada. levei tudo na desportiva como tu e como a filigraana. e ficámos todos, concerteza, a saber mais.

23 junho, 2006 20:37  
Blogger T said...

Lamento desiludir-te Rui, mas eu sei cada vez menos. E a culpa não é da conversa, mas do Heráclito.

24 junho, 2006 10:47  
Blogger vxcvxvc said...

Não me desiludes, mas acho que estás a interpretar mal. Quanto mais sabemos, mais dúvidas temos. Quanto mais sábios, mais convicções. (creio).

24 junho, 2006 13:58  
Blogger vxcvxvc said...

queria dizer menos convicções. sorry.

24 junho, 2006 15:33  

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